domingo, 9 de outubro de 2011

O quanto é o bastante?

Em uma época em que celebramos relevantes conquistas sociais, causa-nos estranheza constatar que, em alguns setores da nossa sociedade, ainda existem mentalidades alinhadas com os antigos conceitos e regimes.

Comentários que, inicialmente, poderiam passar como um desabafo de um cidadão comum, denotam, na verdade, uma postura elitista; a visão daqueles que se colocam acima e à parte do que consideram “o resto” da sociedade.

A argumentação, que a princípio pressupõe uma preocupação com o bem estar da coletividade, não se sustenta diante de uma leitura mais atenta. À luz da crítica, descortinam-se os preconceitos.

Com o pretensioso título de Antenado, a pequena nota, publicada por Cesar Romero em sua coluna de 04/10/2011, expõe – teoricamente– a “preocupação social” do colunista, que critica os excessos da categoria bancária no exercício de seu legítimo direito de greve. Estes excessos estariam traduzidos na quantidade de cartazes colados nas agências. Na frase que encerra sua nota, o colunista afirma que: “Como aviso, um cartaz é o bastante.” Travestida de preocupação, está a alienação.

Muito distante do universo das colunas sociais, do glamour dos flashes, o trabalhador bancário sofre com excessos muito mais relevantes do que aqueles dos quais, injustamente, foi acusado. Excesso de trabalho, nas agências lotadas de clientes e com poucos funcionários. Excesso de cobranças por metas abusivas, que geram um lucro cada vez mais excessivo para os bancos. Excesso de doenças ocupacionais, de afastamentos por depressão e outras síndromes relacionadas ao estresse. Os clientes, cidadãos comuns, tão distantes também do brilho dos holofotes, sofrem com o excesso de filas, de juros extorsivos, de tarifas escorchantes.

No entanto, a sugestão do Sr. Romero, de que apenas um cartaz bastaria, poderia ter alguma aplicabilidade. Afinal, por mais inútil que uma coisa seja, ela ainda poderá ser de alguma valia. Assim, partindo do pressuposto lançado pelo colunista, questionamos:

Se apenas UM ataque a banco bastaria para que fosse reforçada a segurança nas agências, por que foram contabilizados 838 só no primeiro semestre de 2011?

Se apenas UMA morte nestes ataques bastaria para que TODOS os bancos instalassem portas giratórias em suas unidades, porque foram contabilizadas 34 vítimas fatais nestes ataques, no mesmo período?

Se apenas UMA morte no golpe da saidinha de banco bastaria para que fossem instaladas câmeras de segurança nas calçadas das agências bancárias, por que já foram computadas 21 mortes só no primeiro semestre de 2011?

Se apenas UM suicídio bastaria para que acabassem as pressões por metas abusivas, por que, a cada vinte dias, um trabalhador bancário atenta contra a própria vida em nosso país?

Poderíamos discorrer neste texto sobre inúmeros outros dados estatísticos, que reforçariam ainda mais a propriedade das reivindicações da categoria. E embora consideremos que jamais terá sido dito o bastante, quando o assunto for dar voz aos que não conseguem ser ouvidos, ficaremos por aqui neste artigo. Nos bancos e nas ruas temos trabalho o bastante para nos ocupar. E ainda muitos cartazes para colar.

Robson Marques - Presidente do Sintraf JF
Adriana Bitarello - Diretora de Imprensa e Marketing do Sintraf JF